O curta “Dando Asas à Imaginação” foi exibido em maio no Seoul Guro International Kids Film Festival. Mas sua trajetória de encantamento começou aqui nas terras brasileiras. Confira a entrevista realizada com o diretor e roteirista Arthur Felipe Fiel sobre a produção.
A formação de Arthur, diretor e roteirista do “Dando Asas à Imaginação”, está intimamente ligada a sua paixão por cinema e literatura. Enquanto finalizava uma de suas graduações, teve contato com a docência na Escola Municipal em Aracaju. Cidade natal e também ambiente de inspiração para a criação do curta.
BrazilKorea – Pode nos contar um pouco de sua trajetória? E em que momento decide trabalhar com produção para o público infantil?
Arthur – Desde pequeno eu queria ser artista. Não sabia que arte faria, mas queria ser artista. Era uma coisa já pré-definida. Uma outra coisa é que eu amava escrever, apesar de pouco desenvolver esse gosto. Mesmo me formando em Letras e tendo paixão por literatura eu sentia que faltava alguma coisa. Porque através da literatura eu podia falar uma mesma língua com meus iguais. O cinema, diferente da produção escrita e por sua natureza audiovisual, me proporcionava um falar com o mundo, porque o mundo é audiovisual.
Já a paixão pelas narrativas infantis me veio depois do primeiro contato com as crianças em meu estágio. Definitivamente existe um eu antes e depois daquela experiência que vivi e da qual sinto uma saudade imensa. Tanto que, no curta, faço um agradecimento especial às turmas que convivi na Escola Municipal Olga Benário, em Aracaju. Hoje, no mestrado, minha pesquisa, em resumo, busca realizar um apanhando histórico, social e econômico do conteúdo infantil na TV do Brasil.
DANDO ASAS À IMAGINAÇÃO
BrazilKorea – “Dando Asas à Imaginação” é seu primeiro filme? Como foi o processo de criação?
Arthur – O “Dando Asas”, como a gente chama carinhosamente, é meu primeiro filme. Ele foi realizado junto ao amigo João Marcos Nascimento, que divide a direção comigo e também assume a direção de animação. Fizemos o filme com o patrocínio da Secretaria de Cultura do Estado do Rio e a Fundação Cesgranrio. Através do edital ELIPSE, que é um edital específico pra produção universitária. Ele é também o nosso filme de formação.
Apesar de ser um curta de 13 minutos, o processo de realização dele foi bem segmentado e digamos que grande, para um curta. Isso porque tínhamos o departamento de live-action, com equipe de direção, arte, foto, som, produção e demais profissionais; e também a equipe de animação, que trabalhava conosco de forma diferenciada, pois cada animador recebia sua cena e coordenação do João para trabalhar em casa.
Pra os que eram do Estado do Rio, ofertamos um workshop no software de animação, sob coordenação do João. Cabendo a mim a escrita da história, que havia nascido nas férias de 2016 em Aracaju, após visitar as crianças que estudaram comigo na escola. Além disso, me coube todo o planejamento de realização da obra: montar equipe, traçar o cronograma, orçamento e etc. Coordenado em parceria com a Maria Gomes, nossa produtora. Por isso eu sempre brinco que pra dar asas à imaginação eu contava com a ajuda de João e Maria, sempre dividindo os sonhos comigo. E esse filme é fruto de um sonho coletivo. É um sonho que, inacreditavelmente, bateu asas e tá por aí, voando!
PARTICIPAÇÃO EM FESTIVAIS
BrazilKorea – “Dando Asas à Imaginação” vinha participando de diversas seleções nacionais. Quando surge a perspectiva de participar de uma seleção internacional? E em que momento o Seoul Guro International Kids Film Festival é descoberto por vocês?
Arthur – Nossa estreia aconteceu no Cine Odeon, na Cinelândia, junto a outros filmes selecionados pelo festival. A casa estava cheia, os atores e demais crianças envolvidas no filme estavam presentes. Depois daí, tivemos a oportunidade de exibir o filme em Aracaju, minha terra natal, e em Petrópolis, onde o João morava.
Só então eu tracei o plano de inscrição em festivais que começava fora do país, pra depois retornar e exibirmos ele por aqui. Existem algumas plataformas específicas pra isso e foi em uma delas que eu descobri o Seoul Guro International Kids Festival. Inscrevi o filme em janeiro e pouco tempo depois recebi a resposta da seleção. Essa agilidade foi surpreendente e me deixou imensamente feliz. Já o convite para ir à Coréia veio um pouco depois. Eu fiquei feliz ao recebê-lo, mas estava um pouco descrente afinal o custo da viagem era altíssimo e eu não teria como arcar. Para ir eu precisei recorrer à universidade que me auxiliou com a compra da passagem.
SEOUL GURO INTERNATIONAL KIDS FILM FESTIVAL
BrazilKorea – Como foi a receptividade da crítica e do público do festival em relação ao curta?
Arthur – Na Coreia o Dando Asas à Imaginação foi exibido em dois momentos. O primeiro, a partir de um convite pra lá de especial realizado pelo Professor Soleiman Dias, diretor da Chadwick International School. Ele me recebeu com imenso carinho e sou bastante grato. As crianças da escola reagiram a cada cena do filme e ao fim da sessão eu me vi abraçado por várias delas, que em seguida me pediam também autógrafos. Isso foi inesperado e muito emocionante pra mim. Fiquei absurdamente feliz!
O segundo momento foi a exibição no festival, agora com legendas em coreano e inglês. Foi super legal ver na telona o filme sendo projetado mais uma vez. Na sala, além de crianças havia também outros realizadores, então foi uma troca interessante. Alguns vieram falar comigo depois, dizendo que adoraram a forma como as crianças foram animadas – já dando algum spoiler de nossa narrativa, mas nada que o trailer já não exponha.
BrazilKorea – Você teve oportunidade de assistir outras produções exibidas no festival?
Arthur – Tive sim. Na mesma sessão do Dando Asas, havia outros filmes em exibição e além disso, busquei assistir em diferentes sessões, outros filmes. Afinal é enriquecedora a experiência de assistir produções de diversas partes do mundo que se dirigem às crianças. Sem dúvidas, um aprendizado pra levar pra vida.
NA COREIA
BrazilKorea – Como foi a viagem a Coreia? Compartilhe algumas das experiências vividas lá.
Arthur – A viagem foi uma experiência peculiar, e eu sou muito grato ao que me levou à Coreia. E quando falo isso, eu falo não só do apoio da Universidade Federal Fluminense, através das pró-reitorias e, em especial, dos meus professores Aída Marques, Elianne Ivo e Tunico Amancio, mas a toda uma trajetória que me levou à Coreia e me faz seguir.
Porque pensando bem, quem acreditaria que uma pessoa como eu, filho de uma vendedora assalariada, aluno de escola pública, entraria em um dos cursos mais elitizados do Estado do Rio, que é o curso de cinema e ainda conseguiria sair do país e representar o Brasil do outro lado do mundo, né? Isso me deixa muito feliz e sou especialmente grato ao homem que possibilitou que pessoas como eu pudessem estar aqui e sonhar com o que está por vir e que hoje, infelizmente, se encontra impedido de fazer muitos outros sonhos voarem por aí.
Mas, adicionando ao que ele mesmo diz, não se prende uma ideia, nem um sonho. Muitos de nós ainda vão existir e resistir. E na Coreia o que não me faltou foram perguntas a respeito da situação política atual do país. Não há como negar ou esconder o que é nítido! Acho que essa foi uma das maiores experiências que pude viver, para além da alimentação, que é outra coisa que foi mais um experimento do que experiência. Tirando a forte pimenta, eu amei a variedade da culinária coreana. Tive vontade de ficar mais um pouquinho por lá!
CINEMA COREANO
BrazilKorea – Você já tinha algum contato com o país e as produções de cinema realizadas lá?
Arthur – Antes da viagem, eu não conhecia muito a respeito da cultura coreana. Nada além de vídeos que alguns brasileiros youtubers que vivem na Coreia compartilhavam. O cinema coreano também me era distante. Estar na Coreia me propiciou uma aproximação com essas narrativas. Especialmente através da chance de conversar com realizadores coreanos. Um poderoso intercâmbio. Assim, pudemos perceber coisas comuns e distintas em nossos modos de fazer. Sem dúvida, uma troca super valiosa.
PROJETOS FUTUROS
Arthur – Não sei o quanto posso revelar em relação aos futuros planos para o “Dando Asas à Imaginação”. Mas talvez a gente ainda possa viver por aí uma longa aventura. Tendo oportunidade, sem dúvida alguma, continuaremos a voar e tocar mais corações nesse nosso mundo que é real e também é mágico, especialmente em nossa imaginação.
O filme por enquanto, está reservado ao circuito de festivais e por isso o acesso completo à obra ainda não pode ser liberado, mas muito em breve será. Mas os interessados podem conferir alguns materiais que já estão circulando no Youtube. Para além do trailer e da música tema que recentemente liberamos, há também o making off do filme e uma entrevista dada à Unitevê da UFF.
Aos que desejarem continuar acompanhando e quem sabe desvendar os mistérios e magias dos próximos voos, sigam a página no Facebook do Dando Asas. Afinal, sonhando e voando junto, a gente chega mais alto, né?
Agradecimento: Arthur Felipe Fiel
Entrevista e Revisão: Bárbara Brisa